Se você perguntar a uma pessoa se a diabete é uma doença restrita a humanos, com certeza ela diria que sim. O que muitos não sabem, é que a diabete é uma doença também causada em cães, assim como outras doenças características em humanos estes animais também podem adquirir.
O diabete mellitus é uma doença comum em cães e pode ser fatal se ela não for logo diagnosticada e tratada. O que ocorre é uma deficiência na produção de insulina pelo pâncreas através das ilhotas pancreáticas, ou uma deficiência da ação da insulina nos tecidos.
O pâncreas é uma glândula em forma de V, situada ao longo do duodeno ( porção inicial do intestino delgado). É considerado uma glândula mista, ou seja, possui ações exócrina e endócrina. Exócrina porque ela secreta ácinos pancreáticos, que produzem enzimas importantes que atuam na digestão. Endócrina, pois ele é composto de células produtoras de hormônios lançados na corrente sanguíneas: céluas alfa ( secretam glucagon), células beta ( secretam insulina), células delta ( secretam somatostatina) e células F, que produzem polipeptídeo pancreático. Qualquer problema que envolve algumas dessas células, acarretam problemas como um excesso ou falta do hormônio produzido por elas. Não só cães mas gatos também são acometidos por essa disfunção pancreática.
A insulina é produzida pelo pâncreas e é secretado pelas células beta, e o seu nível é aumentado logo após a digestão de nutrientes e diminuído quando nada é ingerido. Alguns hormônios, tóxicos e outros fármacos podem afetar a produção do hormônio. A insulina primeiramente é sintetizada com pré-insulina, que sofrendo a ação de uma peptidase, forma a pró insulina, que fica armazenada em grânulos dentro das células beta, até que ela receba um sinal para ser excretada. Depois da ação de peptidases, a pró-insulina se transforma em insulina.
A insulina, um hormônio anabólico em mamíferos possuem duas funções: estimular o metabolismo de dos carboidratos e lipídios pela ação de enzimas celulares; e trasporte de glicose através das membranas plasmáticas das células sensíveis à insulina, nas células adiposas e da musculatura esquelética. A insulina ainda inibe a quebra de gordura e a sua deficiência é acompanhada da lipólise.
A insulina atua da seguinte forma: existem receptores de insulina na membrana da célula que recebe o hormônio. A glicose entra para o interior da célula, facilitada pela insulina. Antes de entrar na célula, ela fica aprisionada no hepatócito (células do fígado). A insulina ajusta o nível de glicose sanguínea com o nível de gliose hepática controlado a glicose plasmática Quando os níveis de glicose e insulina estão altos na corrente sanguínea ( por exemplo, após as refeições) a glicose entra no fígado. Quando a glicose sanguínea se torna baixa em face a altos níveis de insulina, a glicose sai do hepátócito produzindo normoglicemia ( FARIA, 2007 apud., WOLFSHEIMER, 1991; CHEVILLE, 1993). Ver o ciclo da insulina na Figura 1.
Figura 1. Ciclo da insulina |
Nas células adiposas e musculares esqueléticas, sensíveis a insulina, esta se liga aos receptores glicoprotéicos da membrana plasmática, acelerando o transporte de glicose para a célula . Uma vez iniciado esse processo, a insulina é degradada rapidamente pela enzima insulinase. A sensibilidade à insulina é regulada pela hipófise, pelos hormônios da adrenal e por outros fatores (FARIA, 2006 apud., CHEVILLE, 1993).
Os níveis baixos de insulina tornam os hepatócitos mais sensíveis ao glucagon, e a diminuição de ambos produz duas alterações: aumenta a gliconeogênese e a capacidade citogênica dos hepatócitos e abastece os hepatócitos com os precursores necessários para a produção da glicose, vindos do músculo de da gordura.. O aumento da necessidade de insulina está relacionada a dieta com alto teor de calorias e o Efeito Somogy, que induz a hiperglicemia por queda da concentração glicêmica menos que 65 mg/dl. Essa queda promove estímulos diversos nos mecanismos fisiológicos que interferem na ação da insulina[...] (FARIA 2006 apud.,NOGUEIRA, 2002).
A diabete mellitus em cães como acontece em humanos, pode ser classificada em três tipos, com base na capacidade secretória das células beta pancreáticas: Grupo I ou dependente de insulina; Grupo II ou não dependente da insulina; e grupo III ( FARIA 2006 apud ., NICHOLS, 1992).
O grupo I - conhecido com diabete dependente de insulina , a forma mais comum em cães, apresenta uma alta concentração de glicose sanguínea, incapaz de responder ao aumento da glicemia com a liberação de insulina, semelhante ao diabetes tipo I em humanos. É um distúrbio envolvendo células beta que resulta na diminuição dos níveis de insulina e numa hiperglicemia sensível a insulina (FARIA 2006 apud., NICHOLS, 1992);
O grupo II- ocorrem em cães com alta ou baixa concentração de insulina e glicose sanguínea, liberação retardada da insulina endógena após estímulos com a glicose semelhante ao diabetes tipo II em humanos (FARIA 2006 apud., NICHOLS, 1992);
O grupo III- cães com concentração discreta de glicose no sangue e concentração normal de insulina. Cães com essa tipo de doença mostram-se capazes de responder ao teste de tolerância a glicose semelhante a humanos com diabetes tipo III, subclínico ou alterada tolerância à glicose. Este tipo de diabete ainda é causado por problemas na concentração elevada de hormônios como glicocorticóides, , adrenalina, glucagon ou hormônio do crescimento que pode ocorrer devido a secreção excessiva, deficiente degradação ou administração exógena dos mesmos (FARIA 2006 apud., NICHOLS, 1992).
A causa de diabetes em cães é sem dúvidas, multifatorial. Predisposição genética, infecções , enfermidades antagônicas da insulina e drogas, ileíte imunomediada e pancreatite forma identificados como fatores iniciais que desenvolvem o diabete mellitus dependente da insulina (FARIA 2006, apud., SHADE, 1993; PROST, 1995). Pode ser desencadeado também por hiperfunção da hipófise anterior ou córtex adrenal e qualquer outro fator que provoque uma alteração nas ilhotas de Langerhans. . Outros fatores como obesidade, estro e prenhez, idade e estresse, pode ser também causadores da doença. No caso do estro e prenhez, o que ocorre é a sensibilidade dos órgãos alvo para a ação da insulina, provocada pelo aumento da produção de estrógeno e progesterona. As fêmeas não castradas são as que têm maiores chances de desenvolverem a doença.
O animal com sintomas da diabete passa a ter sintomas como, polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso. Geralmente, o dono do animal passa e reclamá-lo, que ele urinou dentro de casa ou ficou cego devido a um processo de catarata comum em cães diabéticos.
A detecção de diabetes em cães pode ser feita através de uma urinálise com cultura bacteriana, lípase sérica, glicemia em jejum, hemograma completo, provas de função renal (uréia ou creatinina), proteína sérica total, albumina sérica, alanina amino- transferase sérica (ALT) e fosfatase alcalina sérica (FARIAS, 2006., apud, NELSON, 1994). Os animais que apresentam vômitos, diarréia, anorexia e desidratação, devem ser avaliados quanto a pancreatite, bem como em relação ao balanço eletrolítico e ácido básico (FARIAS 2006, apud., NELSON E FELDMANN, 1988).
Outra complicação do diabete mellitus, a hiperglicemia crônica, consiste a elevação crônica da glicose em cães, provocando glomerulopatia membranosa, causado por uso de insulina por um logo tempo; a formação da catarata ( Figura 2) e infecções bacterianas, principalmente no aparelho urinário.
Figura 2. Cão com catarata |
O tratamento para cães com essa doença se baseia no restabelecimento da homeostase normal do metabolismo de proteínas, lipídios e carboidratos. São aplicadas diariamente injeções de insulina no diabetes do tipo I. As insulina produzidas comercialmente é classificada pela sua rapidez, duração e intensidade da ação após a administração. As insulinas mais utilizadas são: isophane (NPH) ou Lente®; insulina zincoprotamina (PZI) e Regular® ( FARIAS 2006., apud, HOENING, 1988; WOLFSHEIMER, 1991)
Logo após a descoberta da doença , a insulina mais aplicada é a NPH. Todas as insulinas devem ser protegidas do frio e calor extremo calor extremos, e o conteúdo do frasco deve misturado completamente, mas sem agitação antes de administrar cada dose. Após administração subcutânea da insulina NPH, o início
da ação nos cães ocorre aproximadamente após 1 a 3 horas; o pico sanguíneo acontece em 4 a 8 horas; e a
duração total do efeito é de 12 a 24 horas. A insulina do tipo PZI é a menos potente mas de ação maior. Quando a insulina faz efeito, alcança seu pico máximo e a glicemia se reduz.
Alguns fatores podem afetar a aborção da insulina e o seu tempo de ação como: local de aplicação, grau de atividade física, dosagem e a espécie de origem da insulina. O fator mais importante de todos é a variação individual, além da obesidade (FARIAS 2006 apud., MATTHEEUWS et al., 1984).
Os cães demoram de 2 a 4 dias para equilibrar a homeostasia de glicose após o início da administração da insulina ou após qualquer modificação do tipo ou posologia da insulina. Por isso eles não são monitorados logo nos primeiros dias. A glicemia é determinada uma ou duas vezes à tarde para identificar uma sensibilidade significativa às doses aplicadas (FARIAS, 2006 apud., NELSON, 1985.) Além da aplicação da insulina, deve aplicar exercícios em cães e também controlar o seu peso com alimentação adequada.
Um vídeo abaixo mostram casos diabete em um cães
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
FARIA, Priscilla Fernandes de. Diabetes Mellitus em Cães. Natal, 2007. Acta Veterinaria Brasílica, v.1, n.1, p.8-22, 2007.